Saudando a Mandioca: Ambev Aposta em Cervejas Regionais com Raiz Brasileira
A novidade não é tão nova assim. Pelo menos desde 2018, os maranhenses e os pernambucanos podem se gabar de uma cerveja produzida com insumo nativo de seus estados.
De lá pra cá, depois de lançar a Magnífica do Maranhão e a Nossa de Pernambuco, foi a vez de os cearenses brindarem, em 2019, com a Legítima do Ceará.
De acordo com o site da Ambev, mais de 500 famílias de produtores de mandioca são impactadas com a adição do ingrediente na cerveja.
"Com a nossa produção na região, possibilitamos que esses agricultores familiares tenham uma renda sustentável, pois não dependem da sazonalidade da demanda pelo produto."
Mesmo com a promoção social, adicionar mandioca na cerveja pode soar como uma heresia para alguns, uma vez que a lei da pureza alemã restringe os ingredientes da bebida a água, lúpulo e malte.
Entretanto, em 2019, as três cervejas foram premiadas no World Beer Awards.
Na categoria lager internacional, a Legítima recebeu medalha de ouro, enquanto que a Nossa e a Magnífica ficaram com a prata. Ao mesmo tempo, na categoria pilsener clássica, a Nossa recebeu medalha de bronze.
No final de 2020, foi a vez de os goianos entrarem na moda com o lançamento da Esmera de Goiás. Essa bebida segue a mesma linha das anteriores, com a diferença de que a receita é feita com mandioca "do pé rachado".
Ou seja, a raiz utilizada é típica do estado, sendo totalmente cultivada por agricultores da região nordeste de Goiás.
Também ao final de 2020, os piauienses foram contemplados com uma receita regional. Porém, no lugar de um tubérculo, a cerveja Berrió do Piauí leva suco de caju — homenageando as grandes plantações de caju e a cajuína, bebida típica do estado.
De acordo com reportagens de revistas especializadas em economia e finanças, as iniciativas fazem parte da estratégia da Ambev de reverter perdas crescentes em valor de mercado. Afinal, apenas em 2018, o prejuízo foi superior aos R$ 90 bilhões.
Para tanto, a utilização de mandioca é uma forma de baratear a produção e se inspira no sucesso de outras receitas feitas com o mesmo ingrediente, mas em países africanos.
Em 2011, a SABMiller, empresa de origem sul-africana comprada em 2016 pela AB Inbev (controladora da Ambev), lançou a Impala em Moçambique.
Primeira cerveja produzida comercialmente a partir da cassava (nome da mandioca africana), ela foi desenvolvida dentro de uma estratégia de total aproveitamento do ingrediente.
No mesmo sentido, a Ambev e a Embrapa Cocais anunciaram nesta quarta-feira (17) novas pesquisas para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade das mandiocas plantadas no Maranhão.
Desde novembro de 2020, pesquisadores vêm plantando clones melhorados geneticamente da raiz tuberosa (que não é um tubérculo) nos municípios de Magalhães de Almeida, Itapecuru Mirim e Pedro do Rosário.
De acordo com Guilherme Abreu, líder do projeto da Embrapa Cocais, 300 genótipos foram plantados em cada local.
Como resultado, os pesquisadores esperam descobrir duas ou três variedades, com alta produtividade e alto teor de amido, que se adaptem bem às condições da região, como forma de melhorar a qualidade das cervejas da Ambev, parceira na pesquisa.
“Procura-se produtividade acima de 30 toneladas por hectare e teor de amigo igual ou maior a 30%. O trabalho de avaliação das características agronômicas dos genótipos e definição de tecnologias para maximizar o potencial das lavouras e raízes repercutirá também na qualidade dos demais subprodutos de mandioca, como a farinha”, afirma Guilherme Abreu.
As cervejas à base de mandioca, por enquanto, são receitas locais e exclusivas (da mesma forma como a Berrió do Piauí). Ou seja, uma possível experiência a mais na próxima viagem a Goiás, Pernambuco, Ceará ou Maranhão.