Três Tintos de Trinta: Prova de Vinhos Baratos de Supermercado
"O vinho apresenta nariz frutado e notas de madeira com boca cheia de lembranças florais", dizem, mas não falam a principal coisa que queremos ouvir: "levinho, seco, não dá dor de cabeça e é barato".
Afinal, somos jovens, somos pobres, mas queremos tomar um vinho tranquilo de vez em quando, não é?
Tais constatações ficaram ainda mais claras pra mim na semana passada.
Em um jantar de trabalho, eu encontrei um casal de 27 e 30 anos e contei para eles a loucura de começar uma coluna intitulada "Três Tintos de Trinta".
Adoraram a ideia e choraram algumas pitangas. "Em aplicativos de vinho, a galera quer ser muito sabida e esquece o básico", diz Ricardo. "Eu quero saber sobre o gosto imediato; notas e retrogosto não são tão importantes pra mim".
Carol, por outro lado, diz gostar de coisas mais técnicas. "A gente ainda está se habituando aos termos e se aventurando pelas notas", afirma. "Por isso, o legal é ter dicas para encontrar a bebida que seja a nossa cara."
Depois de tudo isso, ganhei a confiança necessária para iniciar a coluna, pois a gente sempre fica com um medinho de apanhar de dinossauros do vinho e de ornitorrincos do bom gosto (aquele povo que gosta de cag** regra, sabe?)
Portanto, e dando a cara a tapa, começo hoje a coluna e vou aprendendo com vocês. Sintam-se a vontade para criticar, pedir mais informações e dar dicas para as próximas colunas.
Bons goles!
A prova
Na avaliação desta semana, todos os vinhos foram comprados, em 24 de abril de 2018, na loja do Pão de Açúcar da Rua Mourato Coelho, em Pinheiros, São Paulo. Na data, os rótulos (e muitos outros) estavam com 30% de desconto.
Bora parar de firulas e começar a avaliação:
1 Terras Altas 2015
Muito fácil de beber, ele tem bastante fruta no aroma, mas não é doce. O frutado é apenas uma lembrança gostosa no nariz e na boca. A acidez dele é bastante gostosa, tipo o acidinho de geleia de framboesa.
Muito leve, ele conserva a característica de "dentes peludos": seca a boca e você sente como se estivesse com os dentes ásperos (isso não é um problema pra mim).
Gostei muito e voltarei a comprar: de R$ 32,90 por R$ 23,03.
2 Foral 2015
Dos três, este foi o mais neutro no nariz. Entretanto, alguma coisa de maçã verde tava ali. Sabe aquela coisa verde e refrescante do cheiro da fruta?
Na boca, ele se mostrou um vinho de tomar de litro: levinho, levinho. Foi feito para beber sem muita atenção. É gostoso, é alcoólico, mas nada demais.
Aquela coisa de "dentes peludos", tipo a sensação de comer banana verde estava muito menos presente aqui, o que deixa ele ainda mais fácil de beber, sem complexidades.
Gostei e voltarei a beber: de R$ 31,90 por R$ 22,33.
3 O Malhadinhas 2014
Um vinho seco (dizer isso pode até parecer bobeira, mas é tanta bebida adocicada nas prateleiras, que vale pontuar a característica).
Levinho de tudo, ele amarra a boca bem de leve, feito quando a gente come caju ou banana verde (isso não é um problema pra mim).
No aroma, o cheiro é de vinho mesmo, mas o álcool é fácil de perceber, o que pode ser um incômodo para os mais sensíveis.
Gostei e compraria de novo, inclusive por conta do preço: de R$ 29,90, ele saiu por R$ 21,03.
Básico das avaliações
1 A coluna avalia vinhos de fácil acesso (comprados em supermercados ou lojas de bairro). O local da compra sempre é assinalado na publicação.
2 O preço dos vinhos deve estar na casa dos 30 reais (R$ 39,99 é o preço máximo). Ao mesmo tempo, valores mais baixos serão sempre bem vindos — pois somos pobres.
3 As avaliações serão sempre pessoais e levarão em conta a sensação gustativa imediata, por mais óbvio que isso possa parecer (levinho, encorpadão que até parece calda, seco, meio adocicado e por aí vai).
4 A ordem em que os vinhos aparecem na lista representa a minha preferência. Caso eu não goste, ele não terá numeração.
