Restaurante D.O.M., de Alex Atala, Despenca e Ocupa a Pior Posição do 50 Best em uma Década
Nesta terça-feira (19), durante festa em Bilbau, na Espanha, a revista britânica Restaurant apresentou a lista dos melhores restaurantes do mundo. No ranking, conhecido como 50 Best, o D.O.M., de Alex Atala, ocupa o 30º lugar (a pior posição desde 2008).
Entretanto, a história do restaurante paulistano com a lista é bastante longa. Ela começa em 2006, quando a casa de Atala entra pro ranking dos 50 melhores do mundo na lanterninha da premiação (50º lugar).
De lá pra cá, muitos sonharam, em 2013, com a possibilidade de o Brasil ocupar o primeiro lugar da lista. Naquela época, Alex Atala apareceu entre as 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time.
Entretanto, após ocupar o quarto lugar em 2012 (a melhor posição até hoje), o restaurante D.O.M. caiu para o sexto lugar (2013) e nunca mais se levantou. Confira abaixo a evolução do restaurante D.O.M. no 50 Best:
2006, 50º
2007, 38º
2008, 40º
2009, 24º
2010, 18º
2011, 7º
2012, 4º
2013, 6º
2014, 7º
2015, 9º
2016, 11º
2017, 16º
2018, 30º
Mas não é só isso, pois 2013, além de marcar o ponto de inflexão na ascensão de Alex Atala, também caracterizou o momento em que o maior cozinheiro do Brasil percebeu que a lista era política e se afastou da premiação. Desde então, ele nunca mais foi visto participando das comemorações.
Para explicar o que é uma premiação política, antes de mais nada, é preciso solucionar a seguinte questão: "como é produzida a lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo?"
Segundo informações fornecidas pela William Reed Business Media, que organiza o prêmio, a lista é formada a partir dos 10 restaurantes preferidos de mais de mil líderes mundiais da comunidade gastronômica: são chefs, empresários, gourmets e jornalistas.
Sem critérios fortemente pré-definidos, apenas com a exigência de que os restaurantes tenham sido visitados nos últimos 18 meses, as sugestões dos jurados são computadas e passam por análises de mercado que evitam a premiação de um restaurante que possa fechar nos meses seguintes.
O problema é que, para se ter uma ideia, entre os 50 restaurantes da lista de 2018, mais de 20 países dos cinco continentes estão representados. Isso, por si só, já apresenta o tamanho da abrangência do prêmio e a necessidade de um amplo trânsito para conhecer todos eles.
Para tentar diminuir essa complexidade, os jurados são divididos em 26 regiões e, obrigatoriamente, precisam eleger seis restaurantes de lá. Em teoria, com essa medida, a eleição deveria ser bastante global.
Entretanto, o que se verifica é um ar de conformismo na lista. O que é evidenciado no fato de, em 2018, 27 restaurantes, ou seja, mais da metade do ranking, encontrarem-se na Europa.
E mais, entre os países que possuem a maior quantidade de restaurantes premiados, segue a seguinte ordem: Espanha, com sete; Estados Unidos, com seis; França, com cinco; Itália, com quatro; Londres, com quatro; Peru, com três; Japão, com três; Tailândia, com dois; e México, com dois.
A partir dessas informações, pode-se depreender algumas análises como, por exemplo, o fato de o Peru, na América Latina, ser o país que mais investe no turismo gastronômico. Também nesse sentido, o México vai despontando após incentivos nacionais que começaram em torno do ano de 2015.
Quanto a Espanha, Estados Unidos, França, Itália e Londres, nem é preciso estender muito a explicação. São países que investem fortemente no turismo gastronômico há décadas e, assim como Japão e Tailândia, patrocinam viagens de jornalistas internacionais para conhecerem seus restaurantes e cultura alimentar.
Por mais que os "fazedores" da lista se esforcem para escolher os "melhores" restaurantes, os nomes presentes nela estão sempre relacionados com jogadas de marketing, eventos e muitas outras ações de boa vizinhança e promoções de turismo regional, o que não é um problema — mas bastante revelador.
Sendo assim, a única conclusão é que: fazer uma lista nunca é fácil e ela nunca fugirá de questões políticas (isso é impossível conceitualmente). Entretanto, quando a razão de ser de uma premiação fica em desalinho com nossa filosofia de vida, só o que nos resta é virar as costas e seguir com o baile.
Confira abaixo a lista completa de The World’s 50 Best Restaurants:
- Osteria Francescana — Módena (Itália)
- El Celler de Can Roca — Girona (Espanha)
- Mirazur — Menton (França)
- Eleven Madison Park — Nova York (Estados Unidos)
- Gaggan — Bangcoc (Tailândia)
- Central — Lima (Peru)
- Maido — Lima (Peru)
- Arpège — Paris (França)
- Mugaritz — San Sebastian (Espanha)
- Asador Etxebarri — Axpe (Espanha)
- Quintonil — Cidade do México (México)
- Blue Hill at Stone Barns — Pocantico Hills (Estados Unidos)
- Pujol — Cidade do México (México)
- Steirereck — Viena (Áustria)
- White Rabbit — Moscou (Rússia)
- Piazza Duomo — Alba (Itália)
- Den — Tóquio (Japão)
- Disfrutar — Barcelona (Espanha)
- Geranium — Copenhagen (Dinamarca)
- Attica — Melbourne (Austrália)
- Alain Ducasse au Plaza Athénée — Paris (França)
- Narisawa — Tóquio (Japão)
- Le Calandre — Rubano (Itália)
- Ultraviolet by Paul Pairet — Xangai (China)
- Cosme- Nova York (Estados Unidos)
- Le Bernardin — Nova York (Estados Unidos)
- Boragó — Santiago (Chile)
- Odette — Cingapura (Cingapura)
- Alléno Paris au Pavillon Ledoyen — Paris (França)
- D.O.M. — São Paulo (Brasil)
- Arzak — San Sebastian (Espanha)
- Tickets — Barcelona (Espanha)
- The Clove Club — Londres (Reino Unido)
- Alinea — Chicago (Estados Unidos)
- Maaemo — Oslo (Noruega)
- Reale — Castel di Sangro (Itália)
- Restaurant Tim Raue — Berlim (Alemanha)
- Lyle’s — Londres (Reino Unido)
- Astrid y Gastón — Lima (Peru)
- Septime — Paris (França)
- Nihonryori RyuGin — Tóquio (Japão)
- The Ledbury — Londres (Reino Unido)
- Azurmendi — Larrabetzu (Espanha)
- Mikla — Istambul (Turquia)
- Dinner by Heston Blumenthal — Londres (Reino Unido)
- Saison — São Francisco (Estados Unidos)
- Schloss Schauenstein — Fürstenau (Suíça)
- Hiša Franko — Kobarid (Eslovênia)
- Nahm — Bangcoc (Tailândia)
- The Test Kitchen — Cidade do Cabo (África do Sul)
